É necessário dar destaque a este novo mapa político sustentado pela direita brasileira.
A (re)eleição dos governadores estaduais
Duas palavras resumem as eleições estaduais brasileiras: reeleição e direita. Dos 20 governadores que buscavam ser reconduzidos a mais um mandato, 12 foram reeleitos em primeiro turno, ou seja, obtiveram mais de 50% dos votos válidos. Outros seis governadores, incluindo o do Rio Grande do Sul, que deixou o poder em abril para tentar uma candidatura presidencial que não se consolidou, estão na disputa de segundo turno, sendo que quatro deles passaram para a segunda rodada em primeiro lugar.
Apenas dois governadores em exercício perderam a eleição, e seus estados terão segunda rodada: São Paulo e Santa Catarina. Outros sete estados não tinham governadores em exercício disputando a eleição. Desses, haverá segundo turno na Bahia, no Mato Grosso do Sul, em Pernambuco e em Sergipe, enquanto o pleito já foi definido no Ceará, Piauí e Amapá.
Em termos ideológicos, seis partidos de direita conquistaram diretamente oito estados. O centro, com o MDB, foi reeleito em duas unidades federativas: no Distrito Federal, com inclinação à direita na figura de Ibaneis Rocha, e no Pará, onde Helder Barbalho venceu com apoio do PT. A esquerda tem cinco estados, com destaque para o PT no trio nordestino composto por Rio Grande do Norte, Piauí e Ceará.
O panorama do segundo turno
Há ainda doze estados em aberto. Existe confronto direto de partidos de direita em Rondônia, com o atual governador que, em 2018 vivia sob a lógica bolsonarista e agora enfrenta senador do atual partido do presidente (PL). Outros cinco estados têm embates entre esquerda e direita. No Espírito Santo, onde Bolsonaro lidera a corrida presidencial, Renato Casagrande, do PSB, disputa o poder contra aliado direto de Bolsonaro no PL. Em São Paulo, Fernando Haddad, que disputou a presidência em 2018 no lugar de Lula pelo PT, enfrenta um filiado ao Republicanos que é ex-ministro do atual presidente.

Em Santa Catarina, onde o atual presidente colheu 62% dos votos em primeiro turno e seu segmento político se dividiu em quatro candidaturas, o PT, que sofre severas resistências, saltou para um inesperado segundo turno. Na Bahia, depois de o União Brasil, partido de direita fruto da fusão do bolsonarista PSL com o DEM, liderar toda a corrida com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, a força do PT, que deu 70% dos votos a Lula em primeiro turno, colocou o ex-secretário Jerônimo Rodrigues em segundo turno com 49,5% dos votos. Por fim, no Sergipe, o confronto se dará entre a direita mais moderada do PSD e uma candidatura do PT, já que o nome do PL que liderava a corrida foi impugnado pela justiça na véspera do pleito.
Disputas pendentes
Há ainda disputas entre o centro e a esquerda em dois estados do Nordeste. Na Paraíba o governador do PSB enfrenta o PSDB. Em Pernambuco, a líder é do Solidariedade, dissidente da família Arraes e do PT, cujo grupo governa o estado há anos e agora foi derrotado. Sua adversária, ex-prefeita de Caruaru, é do centrista PSDB.
Completam a lista os embates entre centro e direita. No Rio Grande do Sul, o ex-ministro de Bolsonaro Onyx Lorenzoni (PL) passou para o segundo turno em inesperada liderança, mas enfrenta Eduardo Leite (PSDB), que ficou à frente do surpreendente nome do PT por menos de três mil votos. Nesse estado, o eleitorado do PSDB e do PT tendem a se unir.
Em Alagoas, o atual governador do centro (MDB) enfrenta, com o apoio do PT, candidato do União Brasil, à direita, respaldado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). Sua candidatura deve receber o apoio de Bolsonaro, que ancorava o ex-presidente Fernando Collor de Mello, terceiro colocado.
No Amazonas, o atual governador do campo bolsonarista enfrenta o centro, na figura de um ex-governador do MDB. Por fim, no Mato Grosso do Sul, uma eleição extremamente equilibrada com cinco nomes na disputa assistirá à máquina estadual controlada pelo PSDB em confronto com candidato nominalmente apoiado por Bolsonaro. Não há confrontos puros na esquerda ou ao centro para o segundo turno.
O Senado à direita
As eleições para o Legislativo, disputadas em cada estado, trouxeram elementos relevantes. Cada um dos 27 estados elegeu um representante para o Senado. Em 18 deles, as pesquisas mostravam, na semana do pleito, candidatos liderando com menos de 33% e grande número de indecisos. Nesses casos, ocorreram viradas em 11 unidades e praticamente todas favoráveis ao bolsonarismo. Em locais cujo líder tinha cerca de 40% ou mais da intenção de votos, vitórias se confirmaram, com destaque de ex-governadores eleitos em 2018 no Nordeste fortemente de esquerda ou centro.
No total, o Senado terá forte bancada à direita. Dos 81 nomes — pois dois terços haviam sido eleitos em 2018 e têm mais quatro anos de mandato pela frente —, o PL ficará com 13 vagas. Além disso, União Brasil (12) e Progressistas (7) ensaiam fusão que criaria a maior força de direita no país. A esquerda chega a 13 vagas, com o PT (9) se destacando.
Câmara dos Deputados à direita
O movimento se repete na Câmara dos Deputados onde as recentes reformas políticas reduziram o total de partidos efetivos de 16, após o pleito de 2018, para cerca de 9. O volume real de legendas caiu de 30, em 2018, para 19, se considerarmos unificadas as federações partidárias – associações formais de partidos. PL (99) e PT (80) terão as maiores bancadas, superando prognósticos iniciais. União Brasil e Progressistas podem ultrapassar 105 parlamentares. Sete partidos que não atingiram a cláusula de desempenho legal passam a ficar sem recursos públicos, e seus 28 eleitos estão livres para procurar outros partidos sem ser punidos por infidelidade.
Se reeleito como presidente, Bolsonaro terá um Congresso Nacional aparentemente mais afeito às suas agendas. Caso ganhe, Lula terá que negociar um governo de centro. Resta entender como funcionará a lógica de distribuição de recursos orçamentários para parlamentares individualmente em torno da governabilidade. Isso se repete nos estados, e é importante observar o desafio dos governadores em relação às assembleias legislativas e seus deputados estaduais, também eleitos no domingo.