Quando analisamos os partidos políticos na América Latina, podemos concluir que muitos são automóveis do século XIX transitando em rodovias do século XX e dirigidos por motoristas do século XXI. Fica claro que algo se desajustou e que haverá problemas.
O terreno sobre o qual se firmam os partidos vem sofrendo rachaduras, movimentos nas placas tectônicas que geram sismos cada vez mais frequentes. A grande maioria dessas organizações não possui estruturas antissísmicas, de maneira que um terremoto e suas réplicas terminam derrubando edifícios históricos. A consequência mais evidente disso é que os habitantes fogem despavoridos a outras latitudes. Alguns se refugiam em edifícios alheios que parecem mais sólidos; muitos tentam construir uma casa precária; mas poucos se dedicam a refletir sobre como deveriam ser as novas bases de uma nova moradia de longo prazo.
Novas estruturas para novos desafios
Uma vez que a atual fase histórica implica sismos permanentes, quem quer que aspire a algo duradouro deve pensar cuidadosamente sobre o tipo de fundações necessárias, mas também de que material o novo edifício deve ser feito para melhor resistir aos choques e quais comodidades internas a nova moradia deve ter. Quanto mais atividade sísmica for prevista, mais flexível deve ser a estrutura.
Antigamente, os partidos eram pensados como se fossem edifícios que deveriam durar uma eternidade: inflexíveis, grandes, sólidos, como se o mundo nunca fosse mudar. Como grandes empresas, ministérios governamentais, unidades militares ou casas que abrigavam várias gerações de uma família. Mas hoje esse contexto deixou de existir. É necessário, portanto, configurar os partidos de outra forma.
Segundo o guru de gestão empresarial Tom Peters, “tempos loucos exigem empresas loucas”. Bem, poderíamos parafraseá-lo jocosamente, dizendo que necessitamos partidos loucos. Devemos incorporar à política outros paradigmas organizacionais, que resultem da observação de como outros âmbitos estão sendo transformados. Se já não pensamos em empresas rígidas, verticais e burocráticas, mas em uma soma de unidades de negócios flexíveis, ad hoc, organizadas por projetos, ágeis, com rápida adaptação às mudanças do ambiente, de baixo custo e que periodicamente incorporam os talentos necessários para cada etapa, também os partidos deveriam ser constantemente reinventados.
Rapidez e flexibilidade
Se, em lugar de grandes exércitos maciços, de complicada mobilização, são agora necessárias forças compostas por unidades de movimentação rápida e alta tecnologia, parte disso deveria ser incorporado conceitualmente por nossos partidos políticos.
Em um sistema político, é necessária uma organização diferente para cada função. Por isso, os partidos são diferentes dos sindicatos, câmaras empresariais ou grupos de pressão. Os partidos articulam diversos interesses da sociedade, ao mesmo tempo em que buscam representá-los nos canais apropriados do sistema democrático. No entanto, a função de representação – tanto concreta quanto simbólica – vem se sentindo ameaçada por algumas das estruturas mencionadas, sobretudo as mais ativas atualmente, como ONGs e movimentos sociais.
Se muitos objetos de uso cotidiano deixaram de ser o que eram — paradigmaticamente, os celulares hoje reúnem dezenas de funções que antes eram desempenhadas por outros aparelhos — e se tornaram grandes híbridos — do micro-ondas ao automóvel, todos são computadores —, é útil pensar que os partidos políticos não deveriam ser somente partidos.

Proximidade com o cidadão
Por que não imaginar um partido com diversos braços ou janelas pelas quais os cidadãos possam se assomar ou se sentir partícipes, sem termos que pensar exclusivamente na figura do militante clássico? Por que deve haver apenas afiliados formais e não cidadãos mobilizados por questões pontuais, que talvez nunca queiram ser militantes nem dirigentes? Hoje, até o último aderente pode dar uma grande contribuição ao produzir e viralizar conteúdo.
Da mesma forma, se o mundo está se tornando uma grande rede, deveríamos pensar também nos partidos-rede, que não são necessariamente estruturas verticais rígidas, pelo menos não no nível do funcionamento real, a despeito da necessidade de estruturas formais que contenham uma soma de células coordenadas por um nó.
Por fim, nem é preciso dizer que a comunicação política hoje em dia é uma função estratégica que deve ser assumida por todos os integrantes de um partido, e não apenas por alguns grandes dirigentes e o departamento específico. Isso porque a capacitação permanente para as novas ferramentas deveria ser uma atividade constante, talvez um treinamento anual ou semestral para se adaptar à metamorfose do universo da comunicação.
Estas são apenas algumas notas para provocar a reflexão sobre a necessidade de um novo paradigma de partido político. Assim como há vários autores que falam de transumanismo —para além de suas implicações filosóficas e éticas —, poderíamos imaginar um transpartidarismo. Seu objetivo final seria transformar essas instituições da democracia mediante a incorporação das tecnologias e modelos organizacionais disponíveis que possam melhorar suas capacidades clássicas.
Tradução para o português de Livia Prado, escritório da KAS em Montevidéu.