A militarização da política brasileira sob Bolsonaro

Desde 2018, a atuação dos militares no Brasil foi da gestão da pandemia à verificação de urnas eletrônicas. Os militares ganharam poder com Bolsonaro, enquanto ele usa as Forças Armadas para dar demonstrações de força.

Por: Marco Bastos5 Sep, 2022
Lectura: 5 min.
A militarização da política brasileira sob Bolsonaro
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Artículo original en español. Traducción realizada por inteligencia artificial.

Acesse a versão em espanhol.

Independência ou golpe

No dia 7 de setembro de 2022, o Brasil comemorará 200 anos de independência. Em vez de desfiles lembrando a data histórica, o presidente Jair Bolsonaro convocou uma manifestação a favor de seu governo na praia de Copacabana, com navios da Marinha no mar e aviões da Aeronáutica rasgando os céus.

A cena que Bolsonaro está organizando para o 7 de Setembro mostra que ele utiliza as Forças Armadas para projetar poder. Em várias ocasiões, ao longo dos últimos quatro anos, o debate político brasileiro girou em torno à possibilidade de um golpe de Estado. Essa tensão permanente, prejudicou a imagem dos militares, envolvendo-os na disputa política como se fossem uma facção e não uma instituição de Estado. Porém, os militares foram amplamente beneficiados nos últimos anos, ampliando sua atuação em diversas áreas do governo e sua fatia no orçamento federal.

As redes de apoiadores do Presidente convocam para o 7 de Setembro com slogans a favor de um golpe militar que seria liderado por Bolsonaro e fecharia a Suprema Corte.

Elecciones Brasil 2022
Eleições no Brasil 2022

No 7 de Setembro de 2021, Bolsonaro discursou para uma multidão no centro de São Paulo e prometeu não mais cumprir ordens judiciais de um dos juízes da Corte. O vice-presidente, General Hamilton Mourão, acompanhava Bolsonaro naquele ato sem precedente na história da democracia brasileira. Em Brasília, naquele dia, havia o temor de que caminhoneiros pró-Bolsonaro invadissem o palácio de vidro do Supremo Tribunal Federal.

O fantasma da intervenção militar

O temor de um golpe permeia o debate político brasileiro desde a vitória de Bolsonaro em 2018, quando o ex-capitão do Exército foi eleito, mesmo elogiando a ditadura (1964-1985).

As manifestações pró-Bolsonaro sempre contaram com grupos pedindo um golpe de Estado. Esses pedidos foram ficando mais explícitos desde o início de seu mandato.

Em maio de 2020, no início da pandemia,Bolsonaro convocou um ato em Brasília, em frente ao Quartel General do Exército. Ele desfilou a cavalo e seus apoiadores pediam que ele fechasse a Suprema Corte e o Congresso. Antes do ato, Bolsonaro sobrevoou a manifestação em um helicóptero militar acompanhado do então Ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva.

Em março de 2021, Bolsonaro trocou o ministro da Defesa e os Comandantes das três forças – Exército, Marinha e Aeronáutica, fato inédito. O ministro Azevedo e Silva escreveu em carta que “preservou as Forças Armadas como instituição de Estado”. Os comandantes demitidos disseram a Bolsonaro queria uma “aventura golpista”.

Em julho de 2021, o jornal O Estado de São Paulo noticiou que o general Braga Neto havia ameaçado o presidente da Câmara de Deputados Arthur Lira, de que se o voto impresso não fosse aprovado, as eleições de 2022 não aconteceriam. O militar desmentiu o jornal. O deputado, não. No dia da votação pelo voto impresso, Bolsonaro mandou veículos militares para um desfile em frente ao Congresso.

Forças Armadas empoderadas

A necessidade de imprimir os votos é parte da teoria da conspiração difundida por Bolsonaro de que o sistema eletrônico de votação é fraudulento. Vários militares de alta patente já difundiram essa desinformação.

Sempre com a ameaça velada de ter o controle das Forças Armadas com ele, Bolsonaro entrou em uma disputa com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que capitulou e incorporou as Forças Armadas em um grupo para supervisionar a segurança das urnas. Os militares usaram os mesmos argumentos sem base nos fatos para questionar a segurança das urnas.

Bandera de Brasil

Desde 2018, as Forças Armadas expandiram seu raio de atuação em políticas públicas antes controladas por civis. Em diferentes momentos do atual governo, generais estiveram à frente de assuntos como:

  • Controle do desmatamento na Amazônia;
  • Gestão da pandemia,
  • A estatal do petróleo (Petrobras) e a da energia elétrica (Eletrobras)
  • Ministérios que cuidam da mineração e da articulação do poder Executivo com o Congresso.
  • O órgão federal que cuida da biodiversidade (ICMbio) foi dado para um capitão da Polícia Militar,
  • A agência reguladora de remédios (Anvisa) esteve com um Almirante da Marinha,
  • A Secretaria de Esportes para um oficial militar,
  • O ministério da Infraestrutura esteve sempre sob o controle de um egresso do Instituto Militar de Engenharia.

Em 2020, o Brasil de Bolsonaro tinha mais militares no ministério do que a Venezuela de Nicolás Maduro.

Os anos Bolsonaro foram bons para os militares. Em meio a uma reforma da previdência que cortou benefícios para civis, militares e policiais mantiveram seus benefícios e os oficiais das Forças Armadas tiveram aumento de 40% do salário. Ademais, áreas como saúde e educação sofreram cortes devido à restrição fiscal, enquanto que os gastos com projetos militares cresceram.

Sem clima para um golpe

Os sinais emitidos pelas Forças Armadas são ambíguos: de um lado coronéis e generais colocam em dúvida a segurança da urna eletrônica, mas por outro lado dizem a jornais, quase sempre off the record,que não apoiariam um golpe.

Nas elites políticas e empresariais, o apoio explícito a um golpe é minoritário – restrito a um grupo que financia movimentos de apoio a Bolsonaro. Contudo, em agosto, empresários e banqueiros assinaram a Carta Pela Democracia, lida no pátio da Universidade de São Paulo – documento que também foi assinado por entidades tradicionalmente de esquerda, como sindicatos e movimento estudantil.

Diferente de 1964, quando o golpe militar foi apoiado em peso por empresários e por governos estrangeiros, em 2022 a pressão internacional foi contrária, sobretudo por parte dos Estados Unidos.

O cenário base é que, silenciosamente, o comando das Forças Armadas vai negociar com Lula, em caso de que ele volte à presidência. A principal demanda militar provavelmente será manter vantagens previdenciárias para a “família militar” e o financiamento para projetos considerados estratégicos para eles.

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Marco Bastos

Marco Bastos

Analista político y consultor de campañas electorales con foco en América Latina. Magister en Historia Económica por la Universidad de Buenos Aires. Analista en Southern Pulse.

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